Choque Anafilático



O frio na barriga de viver, traçar um novo caminho e se sentir pulando de paraquedas todas as vezes que a vida te lembra que há um quarto vazio te esperando, quarto esse que ainda é muito grande pra você, que não te aconchega e não te deixa dormir.
E você, dando voltas por ele se pergunta se não devia ter ficado dentro do seu aconchego.
Lágrimas. 
O peso do mundo.
Todo o peso do seu mundo sobre os ombros.
Mais lágrimas.
Nenhuma certeza, mas a coragem te sopra e faz você andar pra frente, seguir tentando.
Milhões de sinapses acontecendo descontroladas, o frio na pele e os choques elétricos que percorrem todo o seu corpo.
Já te disseram que liberdade dói às vezes? Mas saiba que às vezes só a solidão conforta.
Você apaga a luz e senta no canto mais escuro do cômodo, relembra as histórias que você já não sabe se foram reais.
Eram pra ser, eram pra te fazer sorrir, mas não fazem, elas te apavoram.
Apavoram por você não saber mais quando parará de contar o tempo, quando será apenas você e o vento compartilhando a mesma montanha.
A montanha que tanto te assombrava agora parece um bom lugar.
Mais lágrimas.
E a mobília começa a se encaixar, as idéias agora fazem mais sentido, o horizonte vem se abrindo e já não quer olhar seu rosto.
A inconstância de pensamentos deposita mais peso sobre os ombros.
A madrugada foi fria, mas o dia foi bom, você a aqueceu, o que fez esquecer que na mala já não cabem suas coisas.
Mas a mala grita e você precisa ir embora e você quer ir embora, corre o mais rápido que pode sem olha pra trás, mas o quarto escuro sussurra seu nome em uma produção fonética perfeita.
Silêncio.
O silêncio grita.
O silêncio urra.
E você não diz nada.
Aceita que vai ficar, aprende a amar, mas não tem como prometer que a dor nunca vai voltar. 

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