Devaneios de bonança.



Você se foi com o nascer do sol.
Acordo cedo esperando um vestígio seu, uma mensagem, um bilhete, um restinho de perfume .
Da janela já não vejo seus passos, seu riso contido não mais ecoa entre as paredes.
Uma lista sem nome.
Existem apenas as manchas de lágrimas no assoalho frio, o ranger sob meus pés me trazem a tona lembranças de uma noite qualquer.
Sozinha eu corro até o quarto, troco as roupas de cama e as cortinas que presenciaram momentos, minutos, segundos infinitos de gargalhadas sinceras.
Sinceras? Se foram, você levou-as junto a mala repleta de roupas que eu não tive tempo de pendurar, no guarda-roupa, cabides em excesso dançam ao som da chuva que cai lá fora.
A água corta a rua e eu não te vejo, o vento que adentra a janela emaranha meus cabelos, não há mais motivos para fechá-la.
Eu deixo a porta aberta acaso deseje voltar, a tempestade inunda as quatro paredes de nossas almas, no plano material eu não passo agora de um simples artefato da mobilia.
Decorei poesias para escrever na sua pele, marcar sua epiderme e adentrar a corrente sanguínea, ser sangue do líquido que corre em minhas veias.
No fim somos um só, deciframos o porque de não conseguirmos sombra e água fresca, somos almas perdidas ansiando piedade e um pôr de sol tranquilo, sem mais lágrimas, onde a única necessidade de alimento para o corpo são dedos entrelaçados.

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