Rescaldo

Hoje eu acordei antes do despertador.
E depois de uma semana em que o mundo era cor de rosa o céu acordou cinza.

Eu olhei pros lados e não te vi, não vi ninguém e apesar de querer te culpar eu sei que a culpa é toda minha, de toda essa imaginação fértil, das ilusões que eu insisto em achar belas.

A chuva começou a escorrer pela janela assim que eu levantei da cama, a mesma chuva que escorria pelas minhas bochechas rosadas de frio.

Sinto falta do quente do lar, de me sentir mais em casa.

Já foi a época que eu chamava isso de casa, mas não sei onde colocaram meu móveis e isso me desconcerta.

A falta de móveis, a falta de aconchego, a bagunça que eu fiz dentro e fora do guarda roupa.

Já faz quase um ano.

Eu sei.

Mas talvez eu não quisesse que essa data fizesse aniversário, quando elas completam anos significa que existiram e não foi por acaso.

Ou foi?

Eu diria que foi o acaso mais lindo há um ano.

Agora já não sei, não sei explicar, só vivo e deixo viver, lembrando das coisas boas sem entender porque elas não gostam de ficar.

É o despertador, a chuva e todo o frio da cidade cinza que insiste em pedir pra entrar, se aconchegar e ficar.