Transmutação
A cidade solidão que acende suas luzes no horizonte da Dom Pedro, milhões de casas vazias de coração partido, o vai e vem de veículos sem rumo nem direção, a falta de certezas que ecoa e grita no silêncio da rodovia que tira vidas e rouba almas.
Ela dorme e acorda com olheiras profundas, quando dorme, com sequelas que se arrastam nas horas que adentram o dia, a tarde o vento corta e não há descartável que substitua o pedaço que falta.
Se arrastando pela avenida, os ombros pesam e só o que grita é a saudade do cachorro do vizinho, da mãe, dos amigos, daquilo que nunca teve e provavelmente nunca terá.
A cidade rodeia e permeia o corpo, toda a pele imersa em fuligem e poluição, o verde ainda sorri e as raízes se aprofundam em busca de água fresca, a procura incessante quase afoga e apavora.
Nada passa, o tempo se arrasta, ela olha pra você e te pertence, mas você já não pertence a ela, sobrevive à cidade solidão sem ter que vender a alma, mas vendendo todo o resto do corpo.
Sufoca e acalma, aperta e afrouxa, e já é sexta-feira, já são 6 horas e eu já não quero ir embora, as luzes me abraçam, afagam meus cabelos, a solidão não assusta mais, ela faz companhia e se nomeia liberdade.

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